OCDE: é o momento para aproveitar para aprofundar as reformas necessárias

“O crescimento que esperamos para a América Latina em 2011 não vai chegar aos níveis necessários para realmente fazer frente aos vários déficits sociais, como a desigualdade e a pobreza que continua a existir nesses países”, afirmou Dayton Johnson, chefe para…

“O crescimento que esperamos para a América Latina em 2011 não vai chegar aos níveis necessários para realmente fazer frente aos vários déficits sociais, como a desigualdade e a pobreza que continua a existir nesses países”, afirmou Dayton Johnson, chefe para as Américas do Centro de Desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).

O especialista da OCDE fez esta previsão num seminário celebrado na Casa da América de Madrid na segunda-feira, 13 de dezembro, para apresentar o Relatório “Perspectivas económicas da América Latina 2011”, elaborado por esta organização internacional e divulgado já no início deste mês na Cúpula Ibero-Americana em Mar del Plata (Argentina).

Na inauguração interveio Enrique V. Iglesias, secretário-geral ibero-americano, que referiu que as classes médias tornaram-se um “factor de estabilidade” para a América Latina. Como revela o referido relatório da OCDE, o arranque da classe média é outro factor que impulsionou a economia da região, apesar do texto precisar que ainda “tem um grande caminho a percorrer” para ser equiparável à classe média das economias mais avançadas. Além disso, insistiu Iglesias, trata-se de um “fenómeno muito ligado ao crescimento económico e à transformação social da América Latina nas últimas décadas”.

Dayton Johnson indicou que, tal como refere este documento, a economia latino-americana crescerá cerca de 4 por cento, “mais rapidamente do que a dos países industrializados” da OCDE, para os quais se prevê um aumento de 2,5 por cento.

“É certo – comentou – que com um crescimento de 4 por cento para 2011, (a região) vai gerar recursos para fazer frente a desafios sociais”.

No entanto, apesar “do fosso não ser tão grande” entre a região e os países desenvolvidos como em décadas passadas “na América Latina os níveis de vida são mais baixos do que na Europa ou na América do Norte”, declarou o especialista da OCDE.

“Para que os padrões de vida na América Latina realmente convirjam com os níveis de países mais avançados”, comentou, será necessário “um melhor desempenho macro-económico” e “políticas públicas bem ponderadas para fazer frente ao problema da pobreza”.

Questionado sobre o crescimento necessário para ultrapassar estes “déficits sociais”, Dayton-Johnson afirmou que “a história demonstra-nos que é suficiente” um crescimento anual de 5 ou 6 por cento, “mas também é necessária a vontade política”.

Na sua opinião, “entre 2003 e 2008, com os bons preços das matérias primas e as exportações, temos assistido a um crescimento de cerca de 5 por cento, e em alguns países a um crescimento ainda mais elevado. E com isto, houve uma redução muito importante da pobreza”. Apesar de “em termos gerais as notícias serem boas – referiu – não estamos num momento para complacência. Estamos num momento para aproveitar esta oportunidade para aprofundar as reformas necessárias”.

Na sua exposição, Jeff Dayton-Johnson explicou que a crise internacional afectou a América Latina, mas “o impacto foi transitório”, o que significa “uma conquista importantíssima”.

“Ainda no contexto da crise mundial, a América Latina resistiu bem”, salientou o analista, que atribuiu essa “renovada resistência macro-económica” a políticas nacionais “mais consistentes e estáveis, tanto no aspecto monetário, como no aspecto fiscal”.

“A melhor regulação bancária – acrescentou – também contribuiu para a ausência de crise bancária. Agora, há que aprofundar”.

Pelo seu lado, José Juan Ruiz, economista chefe e director de estratégia e análise para a América Latina do Banco Santander, argumentou que agora as maiores ameaças” que a região enfrenta “são sociais e políticas, não macro-económicas”.

De acordo com o economista do primeiro banco espanhol, que conta com 6.000 sucursais e 42 milhões de clientes na região, os “protagonistas” desta mudança “vão ter de ser as classes médias”.

 

 

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