Negócios e transição ecológica na Ibero-América

A região é uma potência em renováveis pela sua riqueza de recursos hídricos, eólicos e geotérmicos

Columa originalmente escrita para o jornal El País, 15/12/2019

ONDA PAIS -URUGUAY

Terminou a Cúpula do Clima 2019 (COP25), coorganizada pelo Chile e pela Espanha, dois países da Ibero-América. Após os acordos e compromissos aí pactuados, quero apresentar três oportunidades que a transição sócio ecológica oferece para a região.

Como dizia recentemente a economista Mariana Mazzucato no New York Times, para conseguir nossos objetivos de sustentabilidade “temos que mudar a narrativa… criar mercados, criar demanda, dirigir o investimento e a inovação àquilo que pode nos ajudar a conseguir os objetivos de desenvolvimento sustentável”.

E para criar novos mercados, empregos e empreendimento é necessário que pensemos em clave de oportunidades, não só de riscos.

 

As empresas com propósito

Segundo um estudo do Pew Research Center, nossa região é globalmente a que mais se preocupa  pela mudança climática, citando-a como a maior ameaça internacional que enfrenta. Esta preocupação cidadã começou a penetrar no mercado e nos consumidores.

Segundo um estudo da Secretaria-Geral Ibero-americana (Segib), a maioria de nossos cidadãos está disposta a pagar mais por bens e serviços com impactos positivos no meio ambiente e na sociedade, e a ajudar que cresçam as companhias que os produzem, as comumente denominadas “empresas com propósito” ou de “Benefício e Interesse Coletivo” (BIC), que já representam, nada menos que, 6% de nosso PIB e empregam mais de 10 milhões de pessoas.

Aqui há uma oportunidade imensa. Até agora, os negócios mais exitosos costumavam ser os que conseguiam ser mais eficientes em termos de custo, sem importar as externalidades de seus processos de produção, sob a ideia de que o que mais importa ao consumidor é o preço das coisas.

As pesquisas começam a rejeitar abertamente esta premissa. Com a mudança geracional, está surgindo um novo mercado para uma grande variedade de empreendimentos, desde o artesanato até os bens recicláveis e a economia circular, desde os produtos orgânicos até o turismo sustentável, desde as marcas com impacto social até os cafés que vendem produto local.

 

Com a mudança geracional, está surgindo um novo mercado para uma grande variedade de empreendimentos, desde o artesanato até os bens recicláveis e a economia circular, desde os produtos orgânicos até o turismo sustentável, desde as marcas com impacto social até os cafés que vendem produto local.

 

Energia renovável

Entre outros titulares bons com pouca cobertura, está o fato de que Ibero-América é a região com maior porcentagem de renováveis em sua matriz energética, em boa parte, graças à sua riqueza em recursos hídricos, solares, eólicos e geotérmicos.

E isto é bom não só para o meio ambiente, senão também para os negócios. Segundo a International Finance Corporation, tão somente na América Latina, nos próximos 14 anos, o mercado de investimento em renováveis alcançará os 600 mil milhões de dólares, o que equivale ao Produto Interior Bruto de toda a Argentina.

E se isso fosse pouco, a região também é rica em um dos minerais fundamentais para a transição energética: o lítio. Já o principal obstáculo das renováveis não é seu custo de produção, senão sua capacidade de armazenamento. Por isso a importância das baterias feitas de lítio, as quais já são utilizadas pelos carros elétricos e a imensa maioria de nossos acessórios digitais.

Nossa região tem as maiores reservas de lítio no planeta e grandes fontes de energia limpa e renovável, o qual nos apresenta uma oportunidade importante para diversificar nossas exportações e inovar em nossas cadeias de valor para gerar emprego e negócios de qualidade.

 

Startups de serviços urbanos

A Ibero-América já conta com 13 unicórnios (startups valoradas em mais de um bilhão de dólares), nove na América Latina e quatro na península ibérica. Destas, seis estão no setor de logística e serviços urbanos, já seja em micromobilidade, transporte ou serviços de delivery. Isto não é coincidência na região mais urbanizada do mundo, onde 80% da população vive nas grandes cidades.

Desde reduzir o número de carros em circulação graças às viagens partilhadas até oferecer serviços de última milha através de veículos elétricos, desde povoar e incentivar a construção de ciclovias até complementar o transporte público, as startups de mobilidade urbana estão na vanguarda pela transição energética nas cidades, uma área essencial na luta contra a mudança climática, sendo o transporte urbano uma de as principais fontes de contaminação no mundo.

Em um contexto de crescente congestão urbana, o mercado para este tipo de empreendimentos inovadores é gigantesco. Grandes investimentos estrangeiros de venture capitals europeus, norte-americanos e japoneses veem um imenso atrativo neste setor, já que combina duas áreas estruturais nas quais a região está muito bem posicionada: a economia digital e a urbana.

Estas são apenas três ideias de mercados que a transição ecológica está abrindo na Ibero-América. Apenas uma pequena amostra de uma possibilidade muito maior e de uma ideia muito mais potente: a promessa de encontrar na transição sócio ecológica a maior fonte de crescimento deste século.

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