Uma minga Ibero-americana de inovação cidadã

Já vem o próximo Laboratório Ibero-Americano de Inovação Cidadã, e qué melhor que irmos contextualizando através de uma serie de tribunas temáticas acerca dos labs.

TRIBUNA

Dardo Ceballos

Diretor de Governo Aberto no Governo da Provincia de Santa Fe, Argentina

SERIE: caminho ao #LABICCO nº4

Na era pré-colombiana muitos povos originários latino-americanos tinham uma prática social denominada mink’a (em língua quéchua) que consistia em uma reunião solidária entre amigos e/ou vizinhos para realizar um trabalho colaborativo de utilidade comunitária e depois compartilhar uma generosa comida para celebrar.

Mais de 500 anos depois da chegada dos europeus, esta prática ancestral não só continua vigente, senão que também cruzou o oceano para somar um novo significado ao Dicionário da Real Academia Espanhola:

minga1. do quéchua mink’a. Arg., Chile, Col., Eq., Par. e Peru. Reunião de amigos e vizinhos para fazer algum trabalho gratuito em comum.

Não lembro de nenhuma palavra, em nenhum outro idioma, do que esse vocábulo quéchua para explicar o que é um LABIC, o que lhes dizer do que é uma minga de inovação Ibero-americana que dura nada mais e nada menos do que 15 maravilhosos dias.

Os Laboratórios de Inovação Cidadã impulsionados pela SEGIB são um tipo de minga peculiar, porque reúnem uma centena de pessoas que não eram vizinhos, já que veem de todos os países da Ibero-América, e que não eram amigos (porque a maioria deles não se conhecem), mas também não demorarão muito em fazer-se bons amigos, porque entre tanta diversidade e interculturalidade há uns elementos de coesão que todos têm: são realizadores, acreditam na cultura livre e no trabalho colaborativo, sentem que podem mudar sua aldeia e mudar o mundo.

Os Laboratórios de Inovação Cidadã impulsionados pela SEGIB são um tipo de minga peculiar, porque reúnem uma centena de pessoas que não eram vizinhos, já que veem de todos os países da Ibero-América, e que não eram amigos (porque a maioria deles não se conhecem)

Mais de 100 colaboradores vão a Cartagena para trabalhar durante duas semanas, em uma dezena de projetos propostos por pessoas que não conhecem, muitas delas vão viajar milhares de quilômetros para somar suas ideias e saberes a um protótipo cujo futuro é tão incerto como apaixonante, porque como todo laboratório esta é uma minga de experimentação social, mas nada disso impede tecer uma rede de confiança porque há uma certeza que pode mais que todas as incertezas, chama-se filantropia.

Ali também estarão os mentores, acompanhando as equipes para que possam levar seus projetos adiante, e conetando saberes e experiências entre as diferentes equipes, porque aqui ninguém guarda nada para si, aqui todos põem e todos ganham. Mas, para que tudo isto funcione e todos estejam focados em seus projetos não podemos esquecer do papel fundamental da organização e da coordenação de cada LabIC, essas pessoas que fazem possível que isto aconteça, são além do mais os grandes anfitriões de cada evento e os encarregados de organizar essas celebrações imprescindíveis para fortalecer a comunidade.

minga-corinto

Não há minga se não há comunidade, e LABIC é uma comunidade Ibero-americana de inovação cidadã que não para de crescer, em Cartagena novos membros vão se somar a esta rede que, como tantas outras, depois de cada encontro continua conetada através da internet potenciando projetos locais com escala global.

No que vai de século XXI vimos como muitas destas organizações descentralizadas e radicantes conformaram comunidades globais de pessoas que geraram impactos importantíssimos a nível global, desde criar e recriar software, sistemas operativos, navegadores web, até a maior enciclopédia do mundo.

No LABIC utiliza-se uma metodologia social ancestral aplicada a projetos que compartilham essa ética hacker e o espírito da era da informação, e além de cada projeto e protótipo, evolui um todo que é muito mais que a soma das partes. Esse todo é uma grande comunidade Ibero-americana de inovação cidadã que tem muitas linhas de trabalho (permacultura, cultura livre, cultura digital, open hardware, cuidados, governo, etc.) que confluem todas em um ideário: buscam reconstituir nossa relação com o meio ambiente e redistribuir as oportunidades para melhorar a vida em comum, celebrando a diversidade e a interculturalidade, entendendo que esse é o único caminho para seguir construindo convivência e PAZ. Esse, finalmente, será a mensagem desta grande minga intercontinental, justamente neste momento, desde a Colômbia para todo o mundo.

*LABICCO é a  3ª edição do LABIC (anteriores foram LABICMX em 2014 e LABICBR em 2015), e este ano vai ser organizado pelo Projeto de Inovação Cidadã da SEGIB e o Ministério da Cultura da Colombia, com a colaboração do Medialab-Prado, AECID, Fundação Ford e a Fundación Unidos en Red. Mais sobre LABICCO e seus 11 projetos, AQUÍ 

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