Diálogo China–Ibero-América: parceiras numa nova ordem mundial?

A SEGIB e a Casa Ásia organizaram, na quinta-feira, dia 7 de Outubro, um seminário sobre as relações entre a China e a Ibero-América, que contou com a intervenção de Fang Gang, Director do National Economic Research Institute e Presidente da China Reform Foundation em…

A SEGIB e a Casa Ásia organizaram, na quinta-feira, dia 7 de Outubro, um seminário sobre as relações entre a China e a Ibero-América, que contou com a intervenção de Fang Gang, Director do National Economic Research Institute e Presidente da China Reform Foundation em Pequim. Na cerimónia, apresentada pelo Secretário-Geral Ibero-Americano, Enrique V. Iglesias, participaram também Alicia García Herrero, Economista Chefe de Mercados Emergentes do BBVA e Javier Santiso, Director da Telefónica Latino-América.

Na sua apresentação, Iglesias sublinhou a importância das relações entre a China e a Ibero-América, dada a importância da China, que em duas décadas se tornou na segunda potência mundial, sendo hoje um factor de unidade extremamente positivo, até ao ponto do ciclo económico do mundo no seu conjunto estar ligado à evolução na China. Assinalou também que as previsões de crescimento para a América Latina em 2010 são de 8%, e que a presença chinesa no sub-continente é cada vez mais relevante.

O Secretário-Geral Ibero-Americano destacou que a SEGIB teve sempre presente o tema “asiático” no seu foco de interesse. Por isso, assinou um acordo marco de entendimento com a Casa Ásia e por isso, também é patrocinador do Observatório Ibero-Americano de Ásia-Pacífico dedicado ao seguimento sobre o vínculo da Ásia com a Ibero-América e estimula a Rede Latino-Americana de Estudos sobre Ásia Pacífico (REDEALAP), rede de interacção entre as diferentes universidades e centros académicos para o aprofundamento deste tema.

Iglesias também referiu que estamos a viver uma modificação do eixo dos equilíbrios globais em muitos âmbitos, mas sem dúvida no que se refere tanto a fluxos comerciais como a investimentos. Esta última década presenciou um maior protagonismo dos países emergentes, com a América Latina incluída. E na década que está a iniciar, prevê-se que continue esta tendência e que seguramente se acelere.

A elevada procura chinesa de alimentos, energia, metais e minerais melhorou particularmente os termos de intercâmbio da América do Sul favorecendo sem dúvida o seu crescimento. Esta relação comercial foi um factor chave para explicar em parte o efeito amortizado que teve na sub-região a recente crise global.

O orador convidado foi o Dr. Fan Gang, que em 2008 foi considerado um dos 100 intelectuais internacionais mais destacados do mundo de acordo com Foreign Policy and Prospectus. O Dr. Fan destacou na sua apresentação que o comércio entre a China e a América Latina está bastante equilibrado na actualidade e que sem dúvida existe ainda um número de investimentos muito limitado, uma vez que as reservas de capital chinesas se orientam ainda fundamentalmente para o desenvolvimento local. De todas as formas, os investimentos de capital chinês na América Latina representam 13% do total de investimentos no estrangeiro (sendo o conjunto da Ásia o principal destinatário). O Brasil, o Peru e a Argentina são os três principais destinatários, seguidos pela Bolívia, Chile e Colômbia. O comércio em geral, a mineração e as finanças são os sectores principais em que se investe. No futuro, deseja-se impulsionar um aumento da manufactura de produtos fora da China.

Alicia García-Herrero referiu que o investimento chinês no estrangeiro continuará a crescer com força, uma vez que já actualmente as suas gigantescas reservas em moedas ocidentais podem começar a depreciar-se. Assim, a América Latina pode tornar-se um sócio estratégico para a China no futuro e a relação vai ser cada vez mais forte, partindo da realidade que já hoje existe.

Pelo seu lado, Javier Santiso referiu a forma como a crise de 2008 abre um antes e um depois nas relações económicas globais e que o auge dos países emergentes é um dos factores que se estão a impor com força. Hoje vemos um re-equilíbrio massivo nas relações Sul-Sul. Citou como exemplo o caso do Chile, em que cerca de 35% das suas exportações se destinam à Ásia (15% para a China). Prognosticou que a América Latina vai entrar numa equação muito positiva nesta década que começa, pois abre-se uma janela única para progredir e inovar, diversificando a sua oferta nos mercados globais.

O Director Geral da Casa Ásia, Jesús Sanz, agradeceu a sua participação aos oradores e considerou a iniciativa como muito positiva para um melhor entendimento entre os dois continentes.

 

 

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