Conversatório Ibero-americano no México com o Embaixador de Cuba

O escritório de representação da Secretaria Geral Ibero-americana realizou no dia 15 de abril o Conversatório com o Dr. Dagoberto Rodríguez, Embaixador de Cuba no México, que falou sobre “Cuba e…

O escritório de representação da Secretaria Geral Ibero-americana realizou no dia 15 de abril o Conversatório com o Dr. Dagoberto Rodríguez, Embaixador de Cuba no México, que falou sobre “Cuba e a sua Política externa”.

A intervenção foi apresentada por Manuel Guedán, Diretor do Escritório de representação, que também deu as boas-vindas ao orador, referiu que uma das características essenciais dos conversatórios é a pluralidade de ideias e a riqueza institucional, pelo que celebrou contar com a participação do Embaixador de Cuba, por se uma pessoa experiente e conhecedora das relações do seu país com a América do Norte, sobretudo com os Estados Unidos, e pela conjuntura atual da recém celebrada Cúpula das Américas do Panamá e pelas práticas que Cuba e os Estados Unidos estão a realizar para o restabelecimento de relações.

Na sua intervenção, o Dr. Dagoberto Rodríguez referiu com uma data histórica o dia 17 de dezembro de 2014, por marca o final das conversações secretas de ambos os países e significou a conclusão de 57 anos de confrontação, a abertura de uma política de diálogo e de reconhecimento ao governo revolucionário cubano por parte dos Estados Unidos.

Referiu ainda três aspetos que permitiram à Ilha chegar a este ponto na história:

1. A resistência cubana à pressão americana.

2. A Política exterior de Cuba

3. O apoio internacional que Cuba conseguiu e que é consequência dos dois pontos anteriores.

A esse respeito afirmou que a política externa cubana é uma política de alcance global que cobre todos os continentes com embaixadas e consulados, além de incluir uma política de cooperação com mais de cem países e 65 mil cooperantes, onde 70 mil profissionais estrangeiros se formaram em Cuba.

Além disso, Cuba é membro de quase todas as organizações importantes e desempenhou com êxito uma liderança nas mesmas através do desenvolvimento de uma política de grande coerência onde se promovem valores como: solidariedade, cooperação, fatores de unidade nos países de terceiro mundo, defesa da Paz com justiça e defesa da carta das Nações Unidas.

Porém, a política externa cubana foi uma resposta à atitude dos Estados Unidos.  Uma atitude que se procurou através do bloqueio comercial e ações como a promoção da subversão interna, destabilização, invasão e terrorismo, colocar a população contra o governo cubano.

Hoje em dia, após a queda do comunismo e do enorme esforço de Cuba para avançar sem o grande apoio da extinta URSS, a aproximação da União Europeia e a diversificação dos laços comerciais e de cooperação com a China, países da Ásia, África e também com a América Latina, é possível ver a Ilha avançar.

Neste sentido, o Embaixador referiu que o laço de prioridade mais importante na sua política exterior é a América Latina, sobretudo a partir das mudanças que se deram na região no ano 2000 e que permitiram à região estar mais próxima dos heróis latino-americanos. Neste sentido, Cuba apoia todos os esforços de integração como o Mercado Comum do Sul (Mercosur), União das Nações Sul-americanas (UNASUR), Aliança Bolivariana para as Populações da Nossa América (ALBA) e PETROCARIBE.

Porém, manifestou que para Cuba foi muito importante a criação da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (CELAC), onde existe uma coincidência de diálogo político.

Relativamente à recém celebrada Cúpula das Américas, referiu a importância da Cúpula para Cuba, mas apontou que também foi muito importante a Cúpula de Cartagena do ano 2012, porque foi quando alguns países latino-americanos começaram a solicitar a presença de Cuba.

Também considerou que a posição dos Estados Unidos e do seu presidente, Barack Obama, na Cúpula do Panamá foi uma boa decisão, mas na sua opinião não havia opção, porque era seguir em frente com o processo ou afastar-se.

Acrescentou ainda que a decisão de Barack Obama foi uma decisão corajosa, porque perante 16 presidentes e 15 administrações, tem uma importância que lhe pode custar caro no aspetos político e a partir do ponto de vista partidário.

Adicionalmente, é uma decisão que tem desafios muito grandes, sendo o primeiro: os objetivos da política externa dos Estados Unidos em relação a Cuba não mudaram, quer dizer, ainda se procura a mudança do regime na Ilha, mas o presidente Obama declarou que as ferramentas usadas estão erradas. O segundo obstáculo são as mudanças das administrações nos Estados Unidos, pelo que não é uma garantia que o próximo presidente mantenha a mesma política de aproximação a Cuba.

O Embaixador Rodríguez referiu que cuba exprimiu a sua disponibilidade para o diálogo e só pediu respeito. Informou que o governo cubado ofereceu acordos de cooperação na luta contra o narcotráfico, temas ambientais, serviços de guarda-costas, serviços de transportes aéreos, ciência e tecnologia. Nesse sentido, Cuba está aberta ao intercâmbio em todas as áreas, apesar de isso não ter nada a ver com a normalização das relações de forma direta.

Quer dizer, que a normalização de relações é um assunto unilateral porque são os Estados Unidos que devem terminar o bloqueio econômico; devolver a base naval de Guantánamo; e os Estados Unidos devem abandonar a sua política de assédio em relação ao governo cubano (fim da eliminação de subvenções aos dissidentes cubanos e às transmissões de rádio para o território cubano).

Assim, o Embaixador de Cuba assinalou que este processo é um caminha difícil que não tem um fim definido e que requer que Cuba continue com a sua política externa.

A opção foi possível graças ao apoio da América Latina e sobretudo do México, que nunca cortou relações com Cuba e continuou com as relações políticas e econômicas com a Ilha.

Por fim, em resposta à investigação do Colégio do México, Ana Covarrubias, o Embaixador Dagoberto Rodríguez afirmou que a relação com os Estados Unidos não afetará as relações com a ALBA porque Cuba manifestou nas negociações que nada modificará o seu ordenamento interno nem as suas relações internacionais, assim como as causas que Cuba decida apoiar.

Relativamente à Organização de Estados Americanos, assinalou que o espaço de Cuba está na CELAC, que é considerado pelo governo cubano como um espaço não só de diálogo político mas que no futuro avance para aspetos de integração. E por isso é importante para eles que nesse espaço não estejam atores externos que dificultem a integração.

Finalmente, comentou que para o restabelecimento de relações entre Cuba e os Estados Unidos é necessário que Cuba saia da lista de países promotores do terrorismo e que se lhe permita a abertura de contas bancárias nos Estados Unidos.

O Embaixador Dagoberto Rodríguez esteve acompanhado na mesa por Mauricio Reyes, Diretor de Relações Institucionais de Fomento Empresarial Mexicano (FEMSA) e por Manuel Guedán, Representante da Secretaria Geral Ibero-americana para o México, Cuba e República Dominicana.

Além disso, estiveram presentes 40 pessoas entre membros do corpo diplomático, personalidades do âmbito empresarial, acadêmico e funcionários da Secretaria de Relações Exteriores. Como em ocasiões anteriores, o conversatório foi patrocinado por Fomento Económico Mexicano (FEMSA).

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