A América Latina, uma região muito vulnerável perante as alterações climáticas

Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção Quadro da ONU sobre Alterações Climáticas, proferiu no dia 15 de fevereiro na SEGIB uma conferência sobre a implementação dos acordos de Cancún e o papel da América Latina para combater as alterações climáticas. A cerimónia foi apresentada por…

Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção Quadro da ONU sobre Alterações Climáticas, proferiu no dia 15 de fevereiro na SEGIB uma conferência sobre a implementação dos acordos de Cancún e o papel da América Latina para combater as alterações climáticas. A cerimónia foi apresentada por Enrique V. Iglesias, secretário-geral ibero-americano, e contou com a presença Teresa Ribera, secretária de estado para as alterações climáticas de Espanha.

Na sua intervenção, a secretária executiva reconheceu que se o mundo fosse perfeito, um acordo justo, ambicioso e vinculativo para todos os países poder-se-ia alcançar na próxima cúpula sobre Alterações Climáticas em Durban, África do Sul. “Seria ótimo chegar no próximo mês de dezembro a Duban com esse pacto, mas isso acontece apenas nas histórias de fadas”, admitiu Christiana Figueres. Na sua opinião, o acordo deveria ser justo para diferenciar as nações mais vulneráveis, vinculativo para não estar apenas ligado a recomendações científicas e ambicioso para superar o nível de ambição atual que temos.

Estes três elementos só acontecem nos contos de fadas e a realidade é que as nossas aspirações não vão mudar daqui a Durban, comentou Figueres.

Referindo-se de modo específico no âmbito latino-americano, Figueres assinalou que a vulnerabilidade é elevada e certamente crescerá para a categoria de grave ou intensa nos anos 20-30, mas também se abrem oportunidades para a região para mitigar a situação e tomar iniciativas que permitam um desenvolvimento sustentável. Referiu que, apesar de escassos, existem alguns exemplos bem sucedidos que se podem referir, como o repovoamento florestal com árvores de frutos em El Salvador, a regeneração de manglares nas linhas costeiras do México ou a construção de casas de bambu elevadas no Equador.

Existe uma necessidade urgente de que os países na América Latina encontrem as medidas adequadas para mitigar as emissões, revertendo a tendência atual de fossilizar as matérias energéticas, quando os recursos hidráulicos poderiam representar uma percentagem muito maior do que a atual, que é apenas 25% do total (quando a região dispões de 35% de água doce de todo o planeta). Recordou também o grande potencial eólico, solar e geotérmico ainda por aproveitar e a necessidade urgente de reduzir a desflorestação e orientar-se para a exploração sustentável dos bosques. Figueres expressou o seu desejo de que a SEGIB desempenhe um papel relevante no apoio à região.

Apesar de afirmar ser otimista em relação às soluções para o aquecimento global, a especialista opinou que “não podemos perder de vista a política dos Estados Unidos, mas isto não significa que o resultado de Durban se transforme em Copenhague-2?.

Poderia haver possibilidades de subir os níveis de ambição dos acordos de Cancún (sede da última conferência), mas não faz sentido realizar um segundo Kyoto quando países como os Estados Unidos ou Japão não participam, sublinhou.

Destacou que a XVI Cúpula do Clima, celebrada em dezembro passado na referida cidade do México, representou um grande passo para a comunidade internacional das nações, mas um avanço lastimoso para o planeta.

Apesar dos governos terem dado um passo importante na redução dos gases contaminantes, este é insuficiente, porque com o compromisso de 80 estados apenas se alcança 60 por cento do esforço necessário para refrear as alterações climáticas, alertou.

Entre os resultados conseguidos em Cancún, citou o esforço para a redução de gases de efeito de estufa, a criação de um Fundo Verde para os países em desenvolvimento ou o acordo para impedir que a temperatura suba mais do que dois graus centígrados.

Lamentou que na reunião mexicana não se tivesse conseguido estabelecer um teto para o crescimento das emissões nem baixar as mesmas sem renunciar ao desenvolvimento económico.

Em relação à adaptação às alterações climáticas, a secretária executiva precisou que se trata da Cinderela da Convenção Quadro, que até Cancún ainda não encontrou o seu sapato de cristal.

Não podemos resolver um problema de 100 anos em meses, acrescentou Figueres, que equiparou as soluções para este problema à construção de uma grande catedral que se vai construindo pedra a pedra.

 

 

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