A América Latina tem de responder às aspirações das classes medias emergentes

Clarisa Hardy, ex-ministra chilena de Planificação, psicóloga, antropóloga e acadêmica nacionalizada chilena, considera que para analisar a situação atual da América Latina, há que deixar de centrar-se…

Clarisa Hardy, ex-ministra chilena de Planificação, psicóloga, antropóloga e acadêmica nacionalizada chilena, considera que para analisar a situação atual da América Latina, há que deixar de centrar-se na pobreza e colocar o foco na vulnerabilidade da sociedade.

É a ideia que transmite no seu livro “Estratificação social na América Latina: desafios de coesão social” que apresentou na quarta-feira, 14 de janeiro, na Secretaria Geral Ibero-americana e que é resultado de uma reflexão sobre as mudanças e as preocupações dos 18 países analisados da região.

Estas nações apresentam realidades muito heterogêneas, mas enfrentam um problema comum, a vulnerabilidade. Dentro deles, aconteceram processos de integração desiguais e passou-se da pobreza a uma sociedade de classes médias, mas estas são precárias e não têm a sua situação garantida.

A América Latina tem de responder às aspirações da classe média emergente, segundo concordaram a Secretária Geral Ibero-americana, Rebeca Grynspan, e a autora do livro.

Na apresentação do livro de Hardy, na sede da SEGIB em Madrid, Grynspan afirmou que a América Latina enfrenta “uma segunda geração de políticas públicas” após as aplicadas na década anterior contra a pobreza.

A exigência social já não é só “dos pobres da América Latina, mas da nova sociedade que emerge”. Na última década, 80 milhões de latino-americanos saíram da pobreza, segundo recordou, por outro lado, Ludolfo Paramio, investigador do Centro de Ciências Humanas e Sociais do Conselho Superior de Investigações Científicas de Espanha.

A diretora do programa Eurosocial para a coesão social da América Latina na Europa, Inmaculada Zamora, acrescentou que agora é o momento de “passar de colocar em foco a pobreza para colocar em foco a coesão social”.

Outro aspeto em que Hardy pede que se aprofundo é a criação de “sistemas tributários progressivos”, que já se aplicam no Chile, apesar de afirmar que “não existe uma América Latina homogênea, mas tem entre os seus padrões comuns a tendência para a desigualdade”. Apesar de a pobreza ter baixado, na região criaram-se “sociedades precárias”.

A coesão social, o acesso a serviços de qualidade e à igualdade de gênero fazem parte das novas preocupações da classe média. A Secretária Geral Ibero-americana acrescentou que as novas sociedades latino-americanas são “muito mais exigentes uma vez que esperam não só o acesso aos serviços públicos mas sim melhores serviços”.

MENSAGEM DE BACHELET

A presidente de Chile, Michelle Bachelet, também se pronunciou sobre este problema num vídeo projetado na Secretaria Geral Ibero-americana.

Bachelet insistiu na necessidade de passar da vulnerabilidade à inclusão e qualificou este estigma como uma “promessa não cumprida” que “afeta toda a sociedade e as instituições”.

O livro de Clarisa Hardy propõe uma nova metodologia, um novo enfoque para enfrentar o presente e o futuro da América Latina, que foi adotado, segundo revelou, pelo Banco Mundial.

TRES DESAFIOS

Assim, fixa os três desafios que os países têm para paliar a ameaça da vulnerabilidade. O primeiro consiste em criar um sistema de Proteção Social de caráter universal, associado ao próprio fato de se ser cidadão, não à situação laboral ou de pobreza.

Em segundo, construir uma agenda pela igualdade de gênero, uma vez que a situação das mulheres é sempre de mais risco do que a dos homens em todos os estratos sociais.

Por último, centra-se na sustentabilidade política e social, que tem muito a ver com a carga fiscal. O texto aposta em melhorar as cargas fiscais na América Latina, que aumentem progressivamente para poder assegurar serviços sociais, por exemplo a educação, da mesma qualidade do que os do sector privado. 

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