Em 1968, Robert F. Kennedy pronunciou um dos discursos mais poderosos sobre o sentido do progresso. Naquela ocasião, denunciou a insuficiência do Produto Interno Bruto (PIB) como medida de desenvolvimento: “não mede a saúde dos nossos filhos, nem a alegria das suas brincadeiras; não inclui a beleza da nossa poesia, nem a força dos nossos valores […], em resumo, mede tudo, exceto aquilo que faz a vida valer a pena.” Já se passaram 57 anos desde aquele apelo e, no entanto, seguimos medindo o desenvolvimento quase exclusivamente com esse conceito estreito, limitado e profundamente incompleto.
Hoje, o mundo reconhece cada vez mais que é hora de mudar. Em meio a crises sistêmicas — climática, social, tecnológica — é urgente redefinir o que entendemos por progresso e como o medimos. Já não basta quantificar o crescimento econômico. Precisamos de indicadores que nos falem de bem-estar, de sustentabilidade, de justiça e de capacidades reais para viver uma vida digna.
Neste contexto, a “Aliança Global Mais Além do PIB” (Beyond GDP Global Alliance), liderada pela Espanha, OCDE, UNCTAD e a Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB) e apresentada em Sevilha no marco da IV Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, surge como uma resposta corajosa e necessária. Com esta aliança, propomo-nos construir coletivamente um novo marco que redefina o que entendemos por desenvolvimento, refletindo não apenas quanto e como produzimos, mas também como vivemos e para onde queremos ir como humanidade.
Desde a Comunidade Ibero-Americana, há tempo insistimos na urgência desta transformação. Já na Cúpula de Andorra de 2021, fizemos um apelo à comunidade internacional para adotar um conjunto de parâmetros mais integrais que sirvam de guia para avançar rumo ao desenvolvimento sustentável. Essa visão foi se consolidando e foi recentemente reafirmada pela Secretária de Estado de Cooperação Internacional da Espanha, Eva Granados, nas Nações Unidas, em nome de toda a Ibero-América, durante os trabalhos preparatórios desta Quarta Conferência.
A aliança impulsionará três grandes transformações: o que entendemos por desenvolvimento e como o medimos; os critérios de alocação da cooperação internacional, incluindo a Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (AOD), que deve considerar os países de renda média; e a criação de instrumentos que apoiem os países na transição para um modelo mais sustentável, justo e inclusivo.
Deixar o PIB para trás não é apenas um imperativo técnico, mas também político e ético. Se mantivermos uma cooperação internacional baseada unicamente em médias econômicas, continuaremos a reproduzir as mesmas desigualdades que dizemos combater. Medir bem é a base para decidir bem. Por isso, o que está em jogo é muito mais que uma mudança metodológica: é a nossa capacidade coletiva de imaginar e construir um mundo melhor.
É hora de escutar os alertas do passado e agir com decisão no presente. Comecemos por medir o que realmente importa.
Artigo escrito por Andrés Allamand, Secretário-Geral Ibero-Americano
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