O Secretário-Geral Ibero-Americano, Enrique V. Iglesias, apresentou junto ao escritor mexicano Carlos Fuentes, a brasileira Nélida Piñon, e o ex-presidente da Colômbia Belisario Betancur, o Foro Ibero-América Hoje que acolhe a Secretária-Geral Ibero-Americana (SEGIB).
O encontro reúne na sede da SEGIB em Madri a mais de 20 personalidades do mundo acadêmico, político e cultural, que analisarão o passado, presente e futuro da integração ibero-americana.
Ibero-América Hoje
Na apresentação do Foro, Enrique V. Iglesias assinalou que “se trata de promover um diálogo para discutir algumas perguntas que nos fazemos regularmente: O que é hoje Ibero-América? O que nos une? O que nos convoca para aprofundar nesta comunidade Ibero-Americana?”
“Tratamos de servir a uma comunidade de nações que compartilham línguas, história, tradições e interesses sociais e econômicos que constituem um imenso capital. E do que se trata é de fazer que este capital gere maiores dividendos para o bem-estar e a felicidade dos nossos povos” adicionou, ressaltando a importância deste encontro para que “nos perguntemos pela nossa missão no seu sentido mais profundo”.
Uma olhada franca ao passado
Por sua vez, Carlos Fuentes destacou a pertinência deste Foro no marco da próxima celebração dos 200 anos das independências dos países latino-americanos.
Para o escritor mexicano, o bicentenário “mais do que uma celebração, é uma comemoração” que deve servir como palco de uma reflexão profunda sobre o processo de construção da comunidade ibero-americana.
“Não será possível falar do presente e do futuro da Ibero-América se não se fala com franqueza do passado, das causas dos processos de independência, das suas insuficiências e as suas virtudes”, assinalou.
Segundo Fuentes, o passado da Ibero-América está marcado pela construção de um amplo espaço cultural enraizado na sua diversidade junto a uma “árdua” luta por consolidar instituições estáveis que ao longo dos anos sofreram “tropeções, revoluções e Estados corporativos”.
“Hoje estamos num valente mundo novo no qual contamos com tudo o que sabemos de nós mesmos e com o que construímos para perguntar-nos para onde nos dirigimos no século XXI”, adicionou.
Carlos Fuentes sublinhou que é o momento de que a região “assuma com franqueza” as suas deficiências e se responsabilize de dar resposta aos seus próprios problemas.
“Estamos num período no qual América Latina é consciente da sua identidade e agora devemos de dar passo à conquista da diversidade dentro dessa identidade”, disse.
Identidade e cultura
Nesse sentido, Nélida Piñon assinalou que apesar de tratar-se de uma comunidade muito jovem, Ibero-América está regida “por dois poderosos idiomas – o espanhol e o português-” que representam um importante valor de sua identidade.
Não obstante, adicionou, ainda que esta identidade seja “muito nítida”, muitas vezes se percebe como alheia, produto de uma “modernidade que nos vem de fora”.
Para a escritora brasileira, um desafio dos povos ibero-americanos é o de "valorizar um possível conceito de modernidade a partir da nossa própria cultura", elevando “a auto-estima dos nossos povos” para poder "entender-nos e reivindicar-nos melhor".
Uma comunidade que viaja no tempo
Por sua vez, Belisario Betancur assinalou que para falar da Ibero-América de hoje é preciso falar das “ ‘Iberoaméricas’ que fomos deixando atrás”.
Entre essas ‘Iberoaméricas deixadas atrás’, o ex-presidente colombiano recordou as idéias do Libertador Simón Bolívar que na sua Carta de Jamaica de 1815 já propunha à Espanha “uma emancipação coletiva” que apontava à criação de uma comunidade ibero-americana de nações; comunidade que voltou a propor em 1826 no Congresso do Panamá.
Segundo Betancur, “fez falta muito tempo” para retomar a idéia da unidade ibero-americana, que começa a fazer-se realidade com o sistema de Cúpulas de Chefes de Estado e de Governo e com o trabalho mesmo da Secretária Geral Ibero-Americana, como forma de recuperar “esses pedaços de nós mesmos que fomos deixando no caminho”.
Participantes do Foro (PDF) (em espanhol)
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