Conclui o Foro Ibero-América Hoje, um espaço de encontro que conseguiu reunir na sede da Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB) a mais de 20 personalidades do mundo acadêmico, político e cultural para analisar o passado, presente e futuro da integração ibero-americana.
Entre os participantes do encontro estavam o Secretário-Geral Ibero-Americano, Enrique V. Iglesias; o escritor mexicano Carlos Fuentes; o ex-presidente da Colômbia, Belisario Betancur, o diretor da Real Academia da Língua, Víctor García de la Concha; entre um amplo elenco de profissionais ibero-americanos.
O Foro teve o objetivo de promover um diálogo sobre o que é a Ibero-América, em torno do eixo passado-presente-futuro da Ibero-América, partindo da idéia que é preciso construir um futuro sem esquecer o passado, para não cometer de novo os mesmos erros. Nele se analisaram numerosas questões sobre a Comunidade Ibero-Americana, algumas das quais foram respondidas à Ciberamérica pelos seus participantes.
Partindo do fato de que a cultura é fator do desenvolvimento, qual é a responsabilidade dos Estados Ibero-Americanos nesse sentido?
Para o escritor nicaragüense Sergio Ramírez, a chave está “na procura de formas de comunicação e desenvolvimento cultural que partam de bases comuns e ao mesmo tempo de bases que ficam ainda por conseguir”, em “tecer uma rede de formas diversas de comunicação que tome como ponto de partida as línguas comuns ibero-americanas”, o que, desde o seu ponto de vista, “dão uma possibilidade de integração formidável como a nenhuma outra Comunidade de Nações”.
Por sua vez, para o economista argentino Félix Peña, “tudo o que faça para pôr ênfase nesse vínculo entre cultura e desenvolvimento, cultura da legalidade, cultura da tolerância, cultura da articulação, cultura da solidariedade, cultura da inovação vai ser positivo”. Ademais, segundo Peña, “devemos reconciliar de alguma maneira a hispanidade com a modernidade, a inovação, a ciência e a tecnologia. Acho que resta muito por fazer nesse sentido (…) investimos muito pouco em ciência e tecnologia e no futuro deveríamos ser identificado por isso”.
Finalmente, para o escritor colombiano William Ospina, a cultura tem um “papel de coesão social”, é um “instrumento de sustento do ordem social”. “Eu diria que não são nem os governos, nem as instituições os que sustentam aos países latino-americanos, é a sua gente, é esse substrato cultural comum”. Por isso, segundo Ospina a missão dos Estados, dos governos, é a de estimular “esses processos, estimular sua existência”.
A língua, é a chave da identidade ibero-americana?
O filósofo chileno Martín Hopenhyan não tem dúvida nenhuma sobre isso, já que “a língua é o que mais constitui identidade, formas de pensar, formas de sentir, formas de viver, é o eco da existência para dentro”. No entanto, segundo o filósofo “há um mito da homogeneidade lingüística que não é total: na Espanha há gente que fala diferentes línguas, na América Latina temos 40-45 milhões de indígenas, isto é, um 8 por cento da população que reivindicam as suas línguas”.
Que importância tem a literatura no processo de construção de uma Comunidade Ibero-Americana?
Para Ospina a literatura “foi a principal normalidade da América Latina.” Segundo o escritor colombiano a mestiçagem que caracteriza à região, faz necessário “uma decifração, e isso só o pode conseguir a linguagem criadora. Era muito difícil que a política decifrasse à mérica Latina, nem a economia; tinha que ser a arte”. “Não é caprichoso, nem por acaso que a literatura tenha sido o instrumento chave da cultura ibero-americana para se expressar frente ao mundo e para se mostrar no mundo”.
No ano da coesão social na Ibero-América, que papel deve jogar a cultura para ajudar a diminuir as desigualdades na região?
Para a Secretária de Estado espanhola para Ibero-América, Trinidad Jiménez “falar de coesão significa falar de identidades e falar de identidades significa fundamentalmente referir-se a uma identidade comum baseada no uso de uma mesma língua e a nossa própria cultura. Mas coesão tem que ir além, tem a ver com a solidariedade inter-regional e com a solidariedade externa para tratar que todo mundo se senta parte de um projeto coletivo e ninguém se senta que é abandonado à sua própria sorte”.
Existe uma ou várias Américas Hispanas?
Martín Hopenhyan é firme neste sentido, e afirma que “existe um mito de uma América única e de uma América unida (…) Existe a América indígena, a América afro, a América crioula, a América insular e a continental, a América pobre e a próspera…”
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